Chicó. O don Juan.
- Diego Moreira
- 2 de fev. de 2021
- 2 min de leitura

Imagem/Ilustração: Billy
Já moravam em casa o Fred e a Rosa, dois labradores que lá pelas tantas resolveram ser um casal. Com a chegada do Chicó, quase houve uma crise no matrimonio canino, cheio de charme e encantos tentou conquistar a Rosa de Luxemburgo. Por uma questão genética como tamanho, altura e peso...o fato não se consumou. Fred e ele até hoje relembram essa história e vira e mexe se estranham pelo quintal. Fred ainda guarda um certo despeito.
Em uma das peripécias amorosas do Chicó perdemos ele por três dias. Achei que tinha morrido, sido atropelado, sei lá, alguma tragédia assim.
Tínhamos vizinhos novos, recém-casados, compraram uma labradora chocolate por um dinheirão...estavam tratando a cachorra como uma filha. Ração da melhor qualidade, passeios diários, brinquedinhos, coleira cor de rosa e adestramento... A cadelinha era uma princesa. Chamava Lanna.
Era um sobrado geminado e nosso quintal dos fundos tinha um muro relativamente baixo, cerca de 2,00 metros de altura. Acredito que também trocaram latidos por ali. Algumas vezes Chicó pulava o portão dos vizinhos para ver a Lanna. No começo pareceu bonitinho e o vizinho me chamou super amistoso pra buscar o Chicó.
Quando ele sumiu não imaginamos que ele poderia estar na vizinha. Procuramos o primeiro dia pelo bairro. Aquela coisa de quem sempre foi boêmio, tentei tranquilizar a Evelize que ele voltaria.
No final do segundo dia sumido, já começamos a pensar em fotos pelos postes do bairro. Na tarde do terceiro dia, meu ex-vizinho – torcedor fanático do Santos, destes de torcida organizada, com tatuagens e gritos de guerra durante a partida, cara de poucos amigos e maior que eu – me chama no portão com o Chicó no colo.
Ufa! Imaginei. Achou o cachorro e trouxe. Fui abrir o portão com cara de agradecido.
Ele me entregou o cachorro com poucas palavras. Disse apenas que achou ele no quintal do fundo “pegando” a cachorra dele. Se manteve escondido durante o período que estavam em casa e fazia a “festa” quando não tinha ninguém.
Me desculpei envergonhado. Perguntei se tinha alguma maneira de reparar o dano...Ele não me respondeu. Me fuzilou com o olhar.
Mantive a dignidade. Peguei o Chicó no colo, fiz um carinho rápido nele. Ensaiei uma bronca...
O Chicó ficou de castigo por mais de uma semana sem poder colocar o focinho na janela.
Meses depois os vizinhos mudaram. Não se despediram de nós. A relação nunca mais foi a mesma. Mas o Chicó ainda visitou a Lanna algumas vezes na espreita da noite. Foi uma paixão fugaz.
Comments