- Isabelle Oliveira
- 13 de out. de 2020
- 5 min de leitura

Imagem de domínio público.
A jornalista e ativista do movimento Body Positive Tamyres Sbrile, conta sua experiência pessoal com a moda e comenta sobre a adaptação do mercado aos diversos tamanhos.
A relação de uma mulher com seu corpo está conectada não apenas com a imagem que ela vê de si mesma, mas também como ela se enxerga na sociedade. A moda é quase sempre descrita como uma forma de expressão. mas como se expressar através da moda, quando ela não consegue se adaptar ao seu corpo? Quais os efeitos na autoestima de uma mulher Plus Size, quando vai a uma loja e não consegue encontrar nada que te sirva?
Em conversa com a Jornalista falamos sobre como o mercado da moda pode ser uma máquina opressora para mulheres gordas, e como a relação com a moda está diretamente ligada à relação com o corpo.
Durante o isolamento social causado pela Pandemia do Covid-19, Tamyres decidiu focar totalmente seu conteúdo na divulgação do Body Positive, movimento que visa criar uma relação mais saudável entre você e seu corpo. Ela conheceu o movimento em 2018, através do Instagram graças a outras ativistas que já estavam presentes nas redes, como Alexandra Gurgel, famosa ativista do movimento conhecida como “Alexandrismo”.
Antes de falar abertamente sobre suas experiências com seu próprio corpo para seus mais de sete mil seguidores no Instagram (itstamyres), a ativista tinha seu conteúdo voltado para moda e beleza. Para o ID Universitário ela falou um pouco sobre sua relação com o mercado de moda sendo uma mulher Plus Size.
Tamyres revela que antes do processo de aceitação, passou por fases difíceis em sua relação com seu próprio corpo, após aprender a se olhar com mais carinho, processo que foi longo. que segundo a mesma permanece sendo feito até hoje, a relação de Tamyres com as roupas também se tornou melhor. ela enxerga que uma conexão mais positiva com o seu corpo pode gerar também uma relação mais positiva com a moda, e vice-versa. Ela comenta sobre como ter a disposição peças que lhe sirvam, contribui para o processo de aceitação: - “Faz muita diferença na autoestima, como você vai querer sair de casa se você não se sente confortável com as próprias roupas que tem?”.
Ela aponta ainda como o mercado de moda dificulta a vida de mulheres que vestem tamanhos grandes: - “Eu uso 50, 52, pra mim é mais fácil , por ser uma gorda média, encontrar roupas.”, agora quando falamos de tamanhos maiores, mesmo as marcas que se dizem Plus Size pecam nas produções. As fábricas geralmente produzem roupas até o 54,[...]só que existem mulheres que usam 70, então do 54 para o 70 há uma discrepância muito grande. Algumas marcas de roupas Plus Size dizem que abordam e contemplam todos os corpos, aí você vai ver na descrição da marca e ela só serve até o 54 além do problema na produção dos tamanhos. Tamyres também fala sobre como os valores muito altos das roupas Plus Size contribuem para a exclusão dessas pessoas.
De fato a realidade da população Plus Size com o mercado têxtil não é fácil, para além da experiência pessoal da nossa entrevistada. podemos olhar também os dados de um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Plus Size (ABPS),onde mostra que 63% dos consumidores relatam dificuldades para encontrar roupas. tanto em tamanhos quanto em opções, enquanto 77% informam que consideram difícil encontrar peças que lhes vistam bem e sejam bem modeladas.
Ao ser questionada se acredita que o mercado de moda evoluiu no quesito inclusão de diferentes tamanhos, Tamyres comenta: - “Acho que teve uma melhora, levando em consideração a minha vivência de quando era mais nova para agora”. Ainda assim ela acredita que é um processo lento. As marcas, as empresas, estão entendendo essa demanda, mas o que acaba atrapalhando é o preço, no meu ponto de vista [...] e os corpos maiores que são esquecidos”.
Agora quando falamos sobre a representatividade de mulheres gordas em campanhas publicitárias de marcas de moda e beleza, ainda existe uma barreira onde a maioria das mulheres escolhidas para as propagandas ainda não representam mulheres de tamanhos grandes. A ativista relatou a dificuldade de ter mulheres de fato grandes como rosto das propagandas voltadas para o público Plus Size: - “As marcas ainda colocam mulheres que usam 44 para serem a modelo Plus Size delas. novamente mulheres de tamanhos maiores não se veem representadas e acolhidas, Há uma representatividade, será preciso lutar muito para que as marcas comecem a usar modelos reais nas campanhas”.
Questiono se Tamyres acredita que a relutância por parte das marcas em usar mulheres de tamanhos maiores, em suas campanhas é também um reflexo da sociedade: - ”O corpo gordo é relacionado a feiúra, então eles colocam uma mulher que usa 44, porque é aceitável, uma vez que as pessoas ainda vão achar bonita”.
Apesar dos problemas que as marcas ainda mostram ao tentarem ser inclusivas, ela não acredita que hoje em dia esse mercado possa se manter sem trazer algo representativo, tanto para suas campanhas, quanto para suas peças e até mesmo em seus funcionários. - “Hoje lutamos por várias quebras de preconceito.” Há uma necessidade de ter diversidade além disso, as marcas contam com algo que pode ser o melhor amigo ou pior inimigo delas no século XXI, a internet. Tamyres comenta: - “Hoje em dia tem a internet que conta tudo, então na minha opinião não tem como uma marca se manter sem diversidade, seja ela qual for.”
Antes de encerrarmos a Jornalista e Ativista falou sobre um momento na moda que deu a ela um pouco de esperança sobre o futuro do mercado. Quando a marca Modaliss escolheu a dançarina Thais Carla como modelo de sua campanha publicitária. - “A Thais recebe críticas e preconceito quase todos os dias, e a marca manteve a escolha por ela. Thais veste 60 mas, milita, posta foto pelada. Então acho que foi bem interessante, afinal as marcas usam geralmente modelos menores”.
Ela ainda dá algumas dicas para as mulheres que desejam construir uma relação melhor com seus corpos: - “A primeira coisa que eu sempre falo é: fazer uma limpa em pessoas tóxicas, nas redes sociais e na vida. Segunda coisa é seguir pessoas reais, Bruna Marquezine é uma mulher real, mas não é o corpo que a maioria tem, seguir mulheres que tem o corpo parecido com o seu, que tem vivências, experiências, isso ajuda no processo todo.”, ela também relatou sobre a importância de conhecer o próprio corpo: - “Uma coisa que eu fiz muito e ainda faço às vezes é me olhar no espelho pelada, eu sempre faço isso, conhecer meu corpo, minhas dobras, minhas celulites, enfim, me olhar.”