Baixista do grupo “Os Travessos”, Edimilson Salvino compartilha experiências musicais
- Marcus Sousa
- 23 de mar. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 26 de mar. de 2021

1 (Foto: Edimilson Salvino/ Baixista da banda "Os Travessos")
O ano de 2020 foi desafiador. Quando um vírus tira milhões de vidas em todo o planeta, a humanidade reavalia suas prioridades a fim de garantir que o número de fatalidades seja o menor possível. Atividades comuns do cotidiano não são mais permitidas e projetos dados como certos tiveram de ser adiados ou replanejados devido às restrições da pandemia.
Em um cenário em que aglomerações representam risco à saúde pública, o setor de entretenimento musical foi um dos mais prejudicados. Sem a chance de realizar shows, cantores em todo o mundo tiveram de encontrar novas formas de trabalhar. Para nos contar sua experiência em meio a isso, o ID Universitário entrevista Edimilson Silva, baixista e integrante dos Travessos, famoso grupo de pagode que está na estrada há 25 anos.
Neste mês, completou-se um ano desde o último show ao vivo da banda e o músico revela ter se surpreendido com a dimensão da pandemia. "Foi um ano bastante difícil e de muita ansiedade, todo mundo estava esperançoso para as coisas voltarem. Para nós da música foi uma novidade, pensávamos que seria uma coisa passageira e tudo estaria resolvido", afirma.
Para ele, se manter produtivo durante a quarentena foi um desafio e isso refletiu na hora de criar canções. "A gente que trabalha com música depende muito do estado de humor. Tem gente que produz muito nessa situação [da pandemia], tem gente que rende na dor, que se inspira na dor, na dificuldade. Tem uma galera que não, que trava, o cara fica fechado, não consegue escrever, compor, estudar. Eu coloquei na minha cabeça: ‘Tá difícil, mas eu vou aproveitar o momento e vou me reciclar. Vou reciclar o meu som, estudar algumas coisas que eu deixei pra trás um pouco e aproveitar o período para ocupar a mente assim’".
Mas de desafios Os Travessos entendem bem. Edimilson relata que durante o começo de carreira o maior problema era entrar na rádio. Sem a ajuda da internet, a banda contava com os amigos que usavam fichas de orelhão para pedir que as rádios tocassem as músicas. "Era um trabalho muito louco, difícil para caramba. Hoje em dia é um pouco mais fácil, não tem tanta barreira. Se eu sou um artista ou compositor anônimo, eu posso criar meu canal no YouTube, fazer uma música, ir apresentando para os meus amigos e de repente o mundo inteiro me conhece, têm vários artistas assim hoje em dia. [Na época] para você espalhar o seu som para uma galera grande tinha que ser na raça mesmo, contar com muito talento, algum diferencial para estar no momento certo e na hora certa para as coisas poderem acontecer", comenta.

2 (Foto: Edimilson Salvino/ Baixista da banda "Os Travessos")
Entretanto, a pandemia foi uma situação sem precedentes. O profissional revela que a situação de hoje é mais complicada do que as que o grupo enfrentou quando estavam começando. A impossibilidade de se fazer shows é o principal fator para este motivo. "Antes, mesmo com as dificuldades, a gente conseguia trabalhar para fazer acontecer. Hoje [com a pandemia] a gente não consegue fazer, tem muita coisa. O show é o principal para a galera da música, estar na rua apresentando seu som é o principal ponto para fazer acontecer, são dificuldades diferentes".
Quando analisa o cenário da música atual, "voraz" é a palavra que ele escolhe para o definir. O baixista expõe que na situação de hoje as coisas acontecem muito rápido e a regra é que os artistas trabalhem apenas com singles, cada vez mais curtos, ao invés de álbuns completos. "Antigamente, você lançava um disco na praça e para você lançar outro, era um, dois anos. Hoje em dia, um sucesso com 15 dias já é velho [risos]. Deu 15 dias, ou pela gravadora ou pela pressão da internet, o cara tem que se reinventar pois se não ele fica antigo, passou, já era".
Em relação a essa tendência de se fazer músicas cada vez menores na tentativa de emplacar mais acessos nas plataformas digitais, os Travessos estão despreocupados. O artista relata que não se sentem pressionados a aderir à tal prática pois o público-alvo deles quer aproveitar o momento. "Uma música de 2:20, na hora em que você mais tá curtindo a música, ela acabou [risos]. A gente trabalha com uma minutagem razoável para ser radiofônica, de uns 3 minutos no máximo, então no nosso segmento ainda não virou uma cultura. No trap mesmo, tem artistas que faz música de um minuto e pouco, menos de dois minutos, é muito louco. A gente procura respeitar a galera que segue a gente, vamos nos adaptando, mas não é algo que a gente precisou se preocupar não".
E engana-se quem pensa que somente os integrantes do grupo sentiram o impacto da pandemia. As pessoas envolvidas nos bastidores dos projetos foram igualmente surpreendidas. "Eu chego pra tocar, mas antes, pra acontecer aquilo ali foi uma galera que teve que ralar. O cara que carrega os instrumentos, passa os cabos, o técnico de som, o cara da iluminação, o segurança. Uma grande maioria, não tinha mais o que fazer. O cara pai de família, não tínhamos o que fazer. Não tinha outro trabalho, dependia dos shows. Na medida do possível, a gente procurou fazer live para ajudar o pessoal, fomos nos ajudando. É essa galera que rala que a gente ficava mais preocupado".

3 (Foto: Edimilson Salvino/ Baixista da banda "Os Travessos")
Por fim, Edimilson conclui afirmando que o esforço e a busca por se manterem atualizados é o motivo que torna Os Travessos um sucesso. Para ele, a originalidade e paixão pelo que fazem são fatores essenciais para a longevidade do grupo. "Eu acho que isso fez o grupo ser o que é hoje. Teve um período lá no começo em que tentamos fazer o que todos estavam fazendo, mas não deu certo. Quando decidimos fazer um som diferente, que a gente acreditava que era nosso, foi que as coisas começaram a andar". E isso se mostra verdade quando analisamos os números: a banda possui quase 1 milhão e meio de seguidores nas redes sociais e continua a marcar a vida de muita gente. "Saber que mesmo depois de 25 anos a banda ainda é lembrada. O reconhecimento é o que dá orgulho", celebra.
E o futuro também reserva grandes lançamentos para o grupo. Assim que possível, a banda irá gravar um novo DVD em celebração à história do grupo. "Vai ser uma comemoração de 25 anos, vai ser importante, com todos os grandes sucessos da banda. A intenção é fazer uma produção diferente para não ser um DVD comum. Vai ser emocionante de novo. Tá todo mundo saindo de uma fase muito triste, então quando pudermos gravar desde um single só com voz e violão, ou fazer uma grande produção, vai ser histórico".
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