15 DE NOVEMBRO E A REPÚBLICA QUE NÃO FOI (PARTE 1)
- Uiliam Grizafis
- 7 de nov. de 2020
- 3 min de leitura

Proclamação da República, de Benedito Calixto Wikimedia Commons
Imagem de Aventuras na História. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/galeria/benedito-calixto-quadro-proclamacao-da-republica.phtml Acesso em 06 de Novembro de 2020.
Nesse mês de novembro, precisamente dia 15, o golpe militar que derrubou a Monarquia Constitucional Brasileira e implantou a República, completa 131 anos, e não podemos deixar de falar sobre ela. Mas antes, quero tratar aqui sobre o que José Murilo de Carvalho escreveu em seu livro: A Formação das Almas. Carvalho fala sobre a conferência pronunciada por Benjamin Constant em 1819, no Athénée Royal de Paris. Constant atribuiu os males da Revolução Francesa de 1789 à influência de filósofos como Mably e Rousseau, que defendiam uma liberdade que não se adaptava aos tempos modernos. Essa liberdade faria que houvesse participação coletiva com o governo. Era a liberdade de participação do homem público. No caso do Brasil, os republicanos do século XIX ao tentar justificar o novo regime, importaram ideias e modelos da França e Estados Unidos (o Brasil sempre foi bom na importação de ideias). Esses modelos serviram de referência aos propagadores do novo regime. O grande problema dos republicanos era que não contava com o principal, o povo, que era monarquista. A república se deu sem a participação popular e o mesmo José Murilo de Carvalho que mencionei acima, em outro livro “Os Bestializados”, cita um sábio francês que residia no Brasil chamado Louis Couty que concluiu: “O Brasil não tinha Povo”. Seus olhos franceses não puderam ver no Brasil uma população ativa e organizada como houve na França. Na verdade, o Brasil tinha povo como podemos ver nas mais variadas revoltas, mas em termos de política formal era desprovido.
A transição do Império para a República tinha como tratativa, a implantação de um sistema que se propunha trazer o povo para o proscênio da atividade política. Não foi o que sucedeu a princípio. Não houve participação popular, tampouco manifestações como foram vistas na França de 1789. Os olhos do povo estavam no Império, como podemos ver no festejo que houve na época da abolição da escravatura em 1888. José Murilo nos conta em seu livro que as festas populares por causa da abolição duraram uma semana e se repetiram no ano seguinte, cinco meses antes da proclamação da República. A simpatia popular se dirigia a D. Pedro II e a Princesa Isabel como ficou evidenciado no aniversário do Imperador em 2 de dezembro de 1888. Permita-me, caro leitor, colocar de modo especificado o que nos conta Carvalho:
“Segundo o testemunho do republicano Raul Pompeia, o Paço Imperial foi invadido por turba imensa de populares, homens de cor a maior parte. A polícia teve de intervir para convencer alguns dos manifestantes de que pelo menos vestissem camisa para se apresentarem ao Imperador. No meio da multidão, salientava-se a imponente figura do príncipe Obá, um negro que se dizia rei africano. Príncipe Obá adornara de penas sua farda de alferes honorário. A cena foi sem dúvida motivo de riso a chacota, e príncipe acabou sendo preso pela polícia. Mas revelava profundo simbolismo: um rei negro, um rei das ruas e becos da cidade, vai paramentado, combinando a farda do mundo oficial com as penas de suas origens africanas, e acolitado pela multidão dos miseráveis saudar o imperador de olhos azuis.”
A reação negativa dos negros à República era notória. Os republicanos não conseguiram a adesão do setor pobre da população. É necessário dizer que, no tempo da Monarquia, a população tampouco tinha participação ativa na política formal.O número de eleitores em 1872 era cerca de um milhão, o que representava 9% da população total do país, de acordo com Simon Schwartzman no livro “Bases do Autoritarismo”. É falado que o espírito público na capital do império era ausente, diferente da Europa onde houve um organismo social ativo. Cabe perguntar se a visão de um povo inativo estava vinculada à noção de um povo no estilo europeu, pois é necessário enfatizar que havia participações e agitações populares como houve na Revolva do Vintém, na abolição da escravatura, revolta da vacina, dentre outras. O fato é que no caso do dia 15 de novembro de 1889, o povo não foi consultado e a República, proclamada às pressas, se tornara “provisória”. Essa “República Provisória” durou até 1993 quando houve o plebiscito, momento em que o povo foi consultado se queria a República ou a volta da Monarquia, ou seja, a “República Provisória” durou 104 anos, tempo suficiente para fazer com que o povo se esquecesse do antigo modelo. (Continua)
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