top of page

AS METAMORFOSES

  • iduniversitario
  • 10 de set. de 2021
  • 2 min de leitura

Transformistas, andróginos e travestis na cidade de São Paulo nos anos 70



Guilherme Vinicius Esteves


Na década de 1970, em meio a ditadura militar, Madalena Schwartz começou a publicar e retratar sobre transformistas, andróginos e travestis nas noites de São Paulo. Começou com nomes como o cantor Ney Matogrosso, as integrantes do grupo DziCroquettes e a atriz Elke Maravilha. Mas depois fotografou também travestis e transformistas anônimas e menos conhecidas, que trabalhavam em salões de cabeleireiro no centro de São Paulo e se apresentavam em boates da região.

O termo "mulher trans" para definir alguém que é do sexo masculino ao nascer e depois se reconhece como sendo do gênero feminino, nem era usado ou conhecido na época. Conheçamos um pouco da história de Martinha, baiana, dona de casa e travesti. Nascida em 1956, teve que lidar desde cedo com o ódio da mãe. “Prefiro ter um filho bandido do que pederasta”, dizia a mãe. Em uma entrevista, ela mostra as marcas das agressões que sofreu da polícia e conta, como quem já perdeu as contas, que foi presa mais de 200 vezes durante a Ditadura. Era só sair de casa e se deparar com a polícia. Detida, só podia sair após retirar toda a maquiagem e acessórios femininos e vestir roupas masculinas. Martinha usava uma tática comum entre as travestis. Quando presas, para se livrar do cárcere e das torturas, elas se mutilavam com lâminas que traziam escondidas na boca. Com medo de contaminação pelo sangue supostamente infectado com AIDS, os policiais as libertavam.


As personagens retratadas por Schwartz se definiam como transformistas (artistas homens que usavam roupas femininas e andróginas para se apresentar) e travestis (pessoas que se reconheciam como sendo de gênero diferente do designado ao nascer).

A principal transsexual em evidência no Brasil na época era a cantora Rogéria, mas ela fazia parte da cena carioca — tinha um show chamado Les Girls no Rio de Janeiro. A maioria das travestis fotografadas pela Schwartz eram pessoas anônimas, que trabalhavam em boates à noite, trabalhavam em salões de beleza ou como prostitutas. O grande preconceito na época fez com que elas escolhessem a noite para trabalhar.

Schwartz tirava as fotos em um estúdio improvisado, que ela fez no seu apartamento. Com isso conseguiu uma grande intimidade com as frequentadoras dessa cena, elas se sentiam muito leves e felizes quando estavam no estúdio, podendo ser quem elas são.

“Uma das questões é porque ela se interessou por esse mundo. Tinha um elemento de contestação nessas travestis e transformistas. Elas adquiriram para a Madalena e para muitas pessoas um caráter simbólico dentro de um período de perseguições. Tudo aquilo virava uma encarnação do conceito de liberdade", diz o Titan Jr.

No Peru, as festas de travestis foram eminentemente proibidas depois em 1975 depois que uma das artistas beijou o presidente na bochecha. Na Argentina, a reunião das fotos foi possível graças a arquivos de memórias trans — havia muita perseguição e nenhuma visibilidade, então os retratos que foram salvos muitas vezes eram fotos escondidas, fotos de festas na rua que a família ia jogar fora.

"Não há nada de mais misterioso no mundo do que o rosto de um ser humano. E a fotografia não faz mágica, ela só vai mostrar o que você quer revelar". -Madalena Shcwartz



 
 
 

Comments


          Receba nossas atualizações!

Obrigado pelo envio!

© 2020 por ID Universitário. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Branca Ícone Instagram
  • Ícone do Facebook Branco
  • Ícone do Twitter Branco
bottom of page