TALIBÃ E A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
- iduniversitario
- 10 de set. de 2021
- 4 min de leitura

Maria Eduarda Oliveira Lima
Recentemente o mundo está presenciando cenas de desespero e ansiedade nos rostos de refugiados afegãos. O medo de ficar no país é maior do que o medo de se arriscar para fugir de lá. Vídeos e fotos de aviões lotados e de pessoas penduradas nas partes exteriores entrará para a história do mundo como a volta de um regime autoritário que causou tanto sofrimento para a população afegã - a volta do Talibã.
Para tratar dessas questões, é importante entendermos o que significa esse termo tão complexo. O Talibã é um grupo político que tem influência no Afeganistão e no Paquistão. Ele surgiu como uma possível resolução para a guerra civil que se instaurava no país.
O Talibã surgiu em 1994 em meio a esse cenário de disputa e divisão. O grupo tomou o poder, invadiu a capital, Cabul, e governou o país de 1996 até a invasão americana, em 2001. O grupo foi formado por estudantes de seminários religiosos (daí veio o nome do grupo, já que Talibã, no idioma pachto, significa "estudante"), que promoviam uma versão conservadora do islamismo sunita, como a proibição de músicas e a restrição de mulheres estudarem. Os talibãs ampliaram sua influência para além do Paquistão e do Afeganistão. Eles entraram na política com promessas como a restauração da paz, da ordem e da segurança no país em meio ao caos da guerra civil. Também prometiam a instauração de um governo da lei islâmica, que teria sua própria versão. Inicialmente eles foram bem recebidos pela população, que via no Talibã uma esperança para o fim dos conflitos civis.
O grupo prometia o combate à corrupção e ao crime. No entanto, as punições para crimes cometidos eram de tamanha violência, como execuções públicas e amputações de membros dos infratores. A aparência também era ditada pelo Talibã, onde homens deveriam usar barba, e as mulheres deveriam cobrir seus corpos e rosto com a burca. O Talibã também proibiu televisão, música e cinema.
É importante lembrar que o Talibã fazia a proteção de grupos radicais, que faziam ameaças ao ocidente, como o grupo Al-Qaeda, que realizou o atentado de 11 de setembro de 2001 contra as torres gêmeas.
As ofensivas americanas nunca conseguiram extinguir a influência do grupo, que continuou seu controle em algumas áreas. O armamento do Talibã é realizado através da produção de drogas, pedágios e taxas de energia elétrica, além de tarifas cobradas em troca de segurança.
Em 2018, Donald Trump começou uma negociação de um tratado de paz com o Talibã. Líderes do grupo foram soltos a pedido do governo republicano. Em 2020 Trump firmou o acordo para a retirada das tropas americanas do Afeganistão, e em troca, os militantes não atacariam forças estrangeiras e combateriam grupos extremistas como a Al Qaeda. Esse acordo logo se estagnou, e Trump passou a retirar algumas tropas no final de seu mandato, prometendo a retirada total até o final de maio de 2021.
Em abril de 2021, Joe Biden, atual presidente dos EUA, anunciou um adiamento da retirada até 11 de setembro. Mas já em agosto, a rapidez da saída das tropas aconteceu, e o governo afegão não foi capaz de manter o poder sem a ajuda das tropas americanas. Sem o apoio dos militares americanos, soldados afegãos entregaram a cidade ao Talibã, e o presidente fugiu do país.
"Hoje, o objetivo do Talibã no Afeganistão é recuperar seu território e expulsar os invasores dos Estados Unidos e da OTAN", explica Reginaldo Nasser, coordenador do curso de Relações Internacionais da PUC-SP.
Na primeira vez que o Talibã assumiu o poder do país, as mulheres que não cumpriam as regras impostas eram humilhadas, espancadas e por vezes até mortas pela polícia do grupo. Durante seu controle no poder, o Talibã impôs com rigor as leis, indo contra os direitos humanos.
A partir dos dez anos, as meninas eram proibidas de frequentar a escola. As mulheres tinham que trajar burcas, cobertas da cabeça aos pés. Dirigir automóveis era punido com pena de morte, e elas só podiam sair em público escoltadas por um homem. Como já mencionado, Televisão, música e salas de cinema foram banidos para todos os afegãos. Assassinos de adúlteros eram executados em público, furtos eram punidos com amputação.
O regime destruía símbolos que considerava contra seus ideais, mas obrigava seguidores de outras religiões a usar seus emblemas em suas vestes para serem identificados.
Para algumas pessoas, os talibãs não mudaram, e continuam com as mesmas ações violentas. "Os relatos vindos de Kandahar e outras regiões já ocupadas nas últimas semanas não soam promissores", diz a analista americana Jessica Berlin. "Não temos nenhuma razão para acreditar que eles se tornaram mais humanitários."
Mônica Sapucaia, advogada especializada em direitos humanos diz que: "As cenas de Cabul entristecem qualquer um. Não apenas porque indicam o retorno de tempos de guerra, mas porque reafirmam o quão frágil são as conquistas em direitos das mulheres. A política talibã é de invisibilizar as mulheres completamente, sua condição de humanidade é negada institucionalmente pelo Estado. Todos sofrem, mas elas ficam impossibilitadas de lutar por dias melhores. É mais do que violentar os direitos humanos, é desumanizar a figura da mulher. Muito triste e a comunidade internacional precisa se mobilizar para defender as mulheres e garantir seus direitos humanos”.
Junto a isso, é importante saber que o Afeganistão ficou de fora das Olimpíadas de Tóquio, já que devido à impossibilidade de viajar ao Japão por conta da situação de instabilidade do país após a tomada do poder pelos extremistas, os atletas não conseguiram comparecer ao evento.
Samira Asghari, representante do Comitê Olímpico do Afeganistão, disse: "Por favor, as atletas femininas, as treinadoras e sua comitiva precisam de sua ajuda. Devemos tirá-las das mãos do Talibã, sair do Afeganistão, em particular Cabul. Por favor, façam algo antes que seja tarde demais”.
As cenas que estamos vendo do desespero para fugir do país, é um medo que tem suas próprias razões. Esse medo e a ânsia por fuga é principalmente de pessoas que trabalharam com forças lideradas pelos Estados Unidos e das mulheres, pelo trauma do tratamento no regime anterior. Muitos países já estão se mobilizando para ajudar os refugiados, principalmente os Estados Unidos, enviando quantias de dinheiro para ajudar os afegãos.
“A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos.” Hannah Arendt
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