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O MOVIMENTO NOSTÁLGICO E A MODA

  • Foto do escritor: Isabelle Oliveira
    Isabelle Oliveira
  • 29 de out. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 30 de out. de 2020

Um olhar para a temporada de moda primavera/verão 2021, e como as marcas vem referenciando o passado em suas coleções.


Imagem de domínio público


As semanas de moda se encerraram pelo mundo em Outubro, com o fim da semana de moda de Paris, agora podemos olhar o que foi apresentado nas coleções de primavera/verão de 2021. Algo que ficou visível foi a nostalgia, muitas grifes apresentaram coleções que fazem referência ao passado, podemos falar sobre as cinturas baixas, os comprimentos mini, e as bermudas clássicos dos anos 90, temos também as mangas bufantes, tendência nos anos 80, e agora tudo é visto como tendência novamente, dessa vez para 2021.


Não é a primeira temporada em que presenciamos referências as tendências de décadas passadas em coleções, a nostalgia, não só na moda como em muitos outros âmbitos da sociedade, vem se mostrando cada vez mais forte, se tornando quase um fenômeno da nossa época, especialmente nesse momento de pandemia no qual subitamente fomos inseridos. Para entendermos melhor essa onda nostálgica que invadiu a sociedade e a moda, conversamos com Melanie Quirino, Designer de moda, MBA em negócios de moda, estudante da USP onde faz MBA em Gestão de varejo, Melanie tem ampla carreira na moda, incluindo trabalho como pesquisadora de tendências dentro da indústria têxtil, e é uma das criadoras do Fashion Insights, portal de moda que ocupa diversas plataformas e que oferece consultoria de moda á empresas.


Começo nossa conversando perguntando a Melanie o que ela acha sobre esse movimento de nostalgia, e a designer diz acreditar que se trata também de uma tentativa de escapismo. “A gente tem essa mega tendência que é a questão da nostalgia, que vem muito do fato das pessoas estarem hiper saturadas, até de estamos passando por uma situação difícil tanto economicamente, quanto estarmos passando por uma pandemia, mas antes mesmo da pandemia a gente já estava sofrendo com alguns problemas políticos e sociais, principalmente no mercado brasileiro”, “Existe um desejo interno no público, no consumidor, de reviver aquilo bom do passado, então aqueles momentos bons, aqueles momentos que trazem um conforto para elas. Isso faz com que muitas vezes eles vão revisitar alguns ícones de estilo que remetem a essa data”.


Melanie acrescenta que além do escapismo, há também um fator comum no mercado de moda, “Em termos de produção [..] dentro da moda a gente tem a curva da tendências, [...] é um período em que a tendência se inicia, ela tem um período de implementação, onde pouca pessoas estão usando, tem um segundo período, que ela tem um crescimento considerável, é o momento em que as pessoas estão mais antenadas, já começam a usar e aquilo começa a se massificar, depois nós temos um período de declínio, onde o mercado está hiper saturado, então aquela peça de roupa, já está em todas as lojas [...] aquele produto já saturou no mercado, e temos um período de latência, [...] é bem comum isso na moda, de certas tendências e certas características de estilo, entrarem em período de latência por até dezoito anos e depois elas retornarem.” Ela cita como exemplos as calças Pantacourt e a Pantalona, que tiveram seu auge e depois entraram em latência, “Sempre que isso acontece, depois desse período de latência, os designers tendem a revisitar aquilo que deu certo no passado”.


A designer credita também a potência das redes sociais, dependo do nível de influência que consumidores possuem em suas redes, eles são capazes de influenciar as marcas, quando o consumidor usa peças vintage que encontra no seu próprio armário ou brechós, ele pode iniciar ali o retorno de uma tendência, que percorre as massas e depois são incorporadas nas passarelas.


É claro que mesmo revisitando o passado, as marcas não copiam os estilos que uma vez foram sucesso, elas adaptam as peças para os novos tempos, tentando dar uma nova cara para algo que já foi visto, Melanie comenta que sempre que isso ocorre as marcas trazem um styling diferente, incorporam as peças em novos cenários, sempre trazendo novos elementos, misturando estampas, tecidos diferentes, novos materiais, tudo isso sem perder o ar da peça, mas contando uma nova história.


Apesar de amarmos um bom clássico, não dá pra negar que novidades também são animadoras, estaria a moda perdendo essa capacidade de trazer algo totalmente novo, principalmente as grandes marcas? Melanie pontua alguns fatores que podem levar a padronização das tendências, um deles seria o fato de grandes marcas, normalmente, fazerem parte de conglomerados de luxo, ela acredita que isso influencia na parte criativa “Quando elas fazem parte desse grupo de luxo, elas tendem a incorporarem as mesmas tendências, para darem força para essa tendência. Então isso faz com que muitas das marcas acabem ficando muito similares, [...] claro cada uma com seu DNA da marca”.


Se você busca por algo novo, e cansou do clima nostálgico, nossa entrevistada fala sobre a contratendência, que ainda é pequena, mas que vem crescendo, ela comenta que para encontrar esses designers, talvez seja melhor tirar o foco das semanas de moda de Paris, Milão ou Nova York, e olhar para Londres, “Nós também temos uma contratendência, que ainda é pequena, mas que está em crescimento, de alguns designers mais independentes, que estão trazendo coisas diferentes, mas que são muito diferentes aos olhos. Então toda aquela parte mais futurista, trazendo alguns materiais inovadores, trazem muitos materiais tecnológicos, trazendo muito essa questão do metalizado, toda essa questão de referenciar o futuro de alguma forma. São poucos designers, acho que mais dentro do cenário de Londres”. Melanie define a semana de moda de Londres como a mais inovadora.


Melanie diz que são poucos os designers que ganham a atenção do público, pois as grandes marcas acabam chamando mais atenção, o que causa essa sensação de que não há novidades, mas ela reforça que há uma onda de artistas jovens e designers novos que estão buscando essa diferenciação, pergunto quais são seus favoritos e que deveríamos ficar de olho, e ela cita três nomes: Christopher Kane, Gareth Pugh e Demna Gvasalia, diretor criativo da Balenciaga.


A Designer de moda, comenta sobre a possibilidade de nas próximas temporadas de moda, assistirmos o declínio da referência ao passado, e ascensão das referências futurísticas, “Eu acredito sim que vai ocorrer essa transição, assim como tivemos looks mega produzidos e super extravagantes para o minimalismo, agora nós estamos vivendo uma onda de nostalgia, e iremos viver uma onda de futurismo. Eu acho que talvez não na próxima estação terá essa virada tão drástica, mas dentro de umas duas ou três estações já iremos ver, consideravelmente, um número maior de designer trabalhando com essa onda de futurismo”.


Enquanto seguimos com fortes aspirações ao passado, pergunto para Melanie, então quais tendências dessa onda nostálgica ela acredita que valem a pena o investimento, e que vão durar por um bom tempo, ela dá a dica: Comprimento Midi para saias e vestidos, materiais mais canelados, tricô nos vestidos e blusões, couro como peça única e também em casacos e calças, e os casacos com padronagem tweed e xadrez.


Para finalizarmos, questiono quais são as tendências que apareceram nas passarelas que mais a agrada, ela fala sobre um movimento que não deixa de ser nostálgica, mas foca na sustentabilidade “A tendência que eu mais estou gostando de ver que está sendo implementada nas semanas de moda, não é nem em relação a uma questão do estilo, mas sim uma questão de produção, que é a questão do reúso que é a técnica de upcycling, já víamos algumas marcas pequenas, em Londres, vemos aqui no Brasil algumas marcas também , utilizando a questão de fazer novas peças com matérias de peças antigas. Nós vimos agora na semana de moda, acho que a última a apresentar foi a Miu Miu, então isso é uma notícia muito importante, quando vemos que essas ações mais sustentáveis, quando elas chegam no topo para as grandes marcas, elas têm um potencial de se popularizarem, e de estarem sendo cada vez mais implementadas”. Melanie também fala sobre o uso de materiais tecnológicos serem uma tendência, que a agrada muito e que estará cada vez mais forte no mercado.


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